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O cenário dos mercados financeiros mudam com muita rapidez Pouco antes do Dia da Libertação nos Estados Unidos, a tarifa universal de importação de 10% era vista como um desastre iminente. Agora, passou a ser considerada a opção mais favorável. O S&P 500 já acumula uma alta de 14% em relação às mínimas de abril, apagando todas as perdas desde a imposição das tarifas mais elevadas dos EUA desde o início do século XX. Mas essa recuperação se sustenta, mesmo com a carga tarifária ainda em patamares historicamente altos, apesar de levemente reduzida?
Grande parte da valorização do S&P 500 na primavera foi impulsionada por um otimismo emocional. Os investidores apostaram no boato de que as tarifas impostas em 2 de abril representavam o auge do protecionismo — e que seriam, em breve, revertidas. Esse clima de expectativa criou o que muitos enxergaram como um "momento ideal" para comprar ações. No entanto, segundo o Bank of America, é hora de "vender o fato" — ou seja, o rali do índice pode ter chegado ao fim.
Essa visão é corroborada pelo modelo da Bloomberg que monitora os lucros corporativos do S&P 500. O indicador acaba de entrar na "zona vermelha", sinalizando uma possível deterioração dos resultados financeiros das empresas listadas. Historicamente, esse movimento não costuma trazer boas notícias para o mercado acionário. Em sete ocasiões anteriores em que o modelo entrou nessa zona de alerta, o S&P 500 caiu, em média, 5,6% nos 12 meses seguintes.
Isto parece bastante plausível. Donald Trump considera "justa" a redução das tarifas sobre importações chinesas de 145% para 80% — mas apenas se a China reabrir seu mercado às empresas norte-americanas. Segundo a Bloomberg, as companhias do S&P 500 obtêm, em média, 6,1% de sua receita com vendas para a China ou para empresas chinesas. Nesse contexto, as tarifas retaliatórias de 125% impostas por Pequim poderiam comprometer significativamente seus resultados financeiros.
O comércio bilateral entre Estados Unidos e China movimenta cerca de US$ 700 bilhões. Além disso, a China possui investimentos de aproximadamente US$ 1,4 trilhão nos EUA. Uma escalada na guerra comercial traria prejuízos não apenas para a maior economia asiática — cujas exportações já enfrentam dificuldades —, mas também para os próprios Estados Unidos. O aumento dos riscos de recessão colocaria forte pressão sobre o S&P 500.
Neste contexto, as declarações de autoridades da Casa Branca sobre o avanço nas negociações entre os EUA e a China — e a possibilidade de um acordo, cujos detalhes podem ser anunciados na segunda-feira — soaram como música para os ouvidos dos otimistas do mercado de ações. Ainda assim, o mercado tem sido movido pela emoção há bastante tempo. Mas será que agora é hora de encarar a realidade? A guerra comercial continua ameaçando tanto o crescimento econômico quanto os lucros corporativos. Diante disso, a recente recuperação do mercado acionário pode estar exagerada.
Do ponto de vista técnico, no gráfico diário, o S&P 500 apresenta alta probabilidade de formar um padrão de reversão baixista conhecido como Anti-Turtles, caracterizado por uma vela com longa sombra superior. Uma queda abaixo de 5635 acionaria um sinal de venda para o índice amplo.