Capital Economics vê desafios profundos na economia europeia
O sentimento dos investidores em relação à Europa melhorou significativamente, impulsionado pela queda da inflação, cortes nas taxas de juros e uma recuperação da renda real. No entanto, pode ser cedo demais para relaxar, já que muitos economistas alertam que a economia europeia ainda enfrenta obstáculos importantes.
As estratégias cambiais da Capital Economics chamam a atenção para o risco de que esse otimismo esteja mascarando problemas estruturais profundos que moldarão o futuro do continente. Em 19 de maio, a consultoria publicou o relatório “O Futuro da Europa”, no qual destaca três questões centrais que a região precisa enfrentar.
A primeira diz respeito à possibilidade de outros países europeus seguirem o exemplo da Alemanha e adotarem políticas fiscais mais flexíveis. “Tentar fazer isso pode precipitar crises fiscais nacionais”, adverte o relatório. A Capital Economics mantém uma postura cética, especialmente em relação a países já altamente endividados, como França e Itália.
A segunda questão envolve a capacidade da Europa de manter-se competitiva em inovação, diante da crescente pressão por reformas estruturais. A escassez de investimentos em inteligência artificial e outras tecnologias de ponta está se tornando cada vez mais evidente. Sem reformas abrangentes, os analistas alertam que a Europa “corre o risco de continuar presa atrás da fronteira tecnológica”, sendo a competição das empresas chinesas um fator que agrava essa urgência.
A terceira preocupação refere-se ao papel da Europa em um cenário geopolítico em transformação. Em meio às crescentes tensões entre Estados Unidos e China, o continente busca posicionar-se como um “terceiro polo” de poder. No entanto, a Capital Economics destaca as divisões internas na zona do euro: “O projeto europeu não foi concebido para projetar poder — seja hard ou soft power — na mesma escala que os governos dos EUA e da China”, aponta o relatório.
Nesse contexto, o euro ainda não representa “um desafio significativo” à dominância do dólar. Segundo os estrategistas, competir com a moeda norte-americana segue sendo uma meta distante.
Embora as ferramentas de política monetária do Banco Central Europeu tenham sido eficazes na redução de riscos sistêmicos, as perspectivas para a economia europeia permanecem frágeis. O relatório observa que é improvável que a Europa iguale o ritmo de crescimento dos EUA no curto prazo, devido à sua dependência de importações de energia e às fragilidades estruturais de seu mercado de trabalho.
No longo prazo, a Capital Economics projeta que a Europa continuará sendo “uma região rica, mas de crescimento relativamente lento” — atrás na corrida da inovação, embora ainda oferecendo oportunidades de investimento atrativas.