O que é a vida, senão um jogo? Os mercados, como crianças, mal aprendem as regras de um jogo e já são apresentados a outro. Em 2024, os investidores estavam obcecados com a quantidade de cortes de juros que o Federal Reserve realizaria. A volta de Donald Trump à Casa Branca mudou as regras. Os traders passaram a "comprar na baixa", impulsionados por ameaças tarifárias que, previsivelmente, acabaram sendo adiadas. Agora, um novo jogo está em formação: os operadores do S&P 500 tentam entender se essas tarifas serão anuladas por decisão judicial.

A decisão do Tribunal de Comércio Internacional dos EUA, que considerou que Trump excedeu sua autoridade ao impor tarifas generalizadas, caiu como um trovão em céu azul. Se essas tarifas forem derrubadas, a inflação pode não acelerar. O estímulo fiscal pode ganhar tração, impulsionando a economia americana. E o ressurgimento da narrativa do excepcionalismo dos EUA pode levar o índice S&P 500 a novas máximas históricas.

Gráfico: Trajetória das tarifas dos EUA

As tarifas sobre aço, alumínio e automóveis continuam em vigor. A Casa Branca recorreu à Suprema Corte — um tribunal mais simpático ao presidente do que o Tribunal de Comércio Internacional. Afinal, foi o próprio Donald Trump quem nomeou vários dos ministros que hoje compõem a mais alta instância do país. Segundo o Goldman Sachs, mesmo que a Corte proíba formalmente as tarifas de importação, isso provavelmente não deterá o ex-presidente. Ele e sua equipe simplesmente recorreriam a outras ferramentas legislativas para alcançar o mesmo objetivo.

Essa nova onda de incerteza levou o S&P 500 a recuar. Um relatório de resultados promissor da NVIDIA chegou tarde demais — depois do fechamento do mercado. A gigante de tecnologia projetou um aumento de receita de US$ 45 bilhões para o segundo trimestre, mesmo estimando um impacto negativo de US$ 8 bilhões por conta das restrições de exportação para a China. A NVIDIA exerce uma influência desproporcional sobre o mercado como um todo — afinal, o ciclo altista de 2022 começou com o lançamento do ChatGPT.

Nos próximos dias, ficará mais claro se os investidores retomarão o chamado "padrão Trump" — comprar o S&P 500 nas quedas provocadas por ameaças tarifárias. O próprio Trump rejeita o apelido dado a essa estratégia — TACO — insistindo que o que o mercado chama de "alarmismo", ele chama de "negociação". Seu método, segundo ele, é começar com tarifas de importação extremamente altas e, em seguida, recuar gradualmente.

Em teoria, se a Suprema Corte confirmar a decisão do tribunal inferior e as tarifas forem integralmente revertidas, a economia dos EUA poderá evitar tanto uma recessão quanto um cenário de estagflação.
Esse desfecho poderia reacender a narrativa do excepcionalismo americano, impulsionando simultaneamente o dólar e o índice S&P 500.

Do ponto de vista técnico, no gráfico diário do índice amplo, os vendedores voltaram à cena, renovando sua pressão na região de valor justo dos 5.890 pontos. Um rompimento abaixo desse nível, seguido por uma queda sustentada abaixo de 5.850, ativaria um padrão clássico de reversão 1-2-3 — sinalizando uma possível entrada em posição de venda.
Por outro lado, oportunidades de compra poderão voltar a surgir caso o índice supere a recente máxima local em 5.935.