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Todos veem o que querem ver. Para Donald Trump, a alta recorde do S&P 500 é a prova de que o mercado aprova suas tarifas. Já para os investidores, é um sinal de confiança de que o presidente dos EUA acabará recuando. A chamada estratégia "TACO" — sigla para "Trump Always Caves Option" (Trump sempre cede) — está em alta. Isso tem permitido que a ganância domine o mercado, enquanto o medo praticamente desapareceu. Vendedores se tornaram uma raridade nas bolsas, sinalizando um clima de euforia. E todos sabem como essas histórias costumam terminar.
À primeira vista, o mercado parece um grande paradoxo. Donald Trump ameaça impor tarifas de 200% sobre as importações de medicamentos, mas, ainda assim, o índice NYSE Arca Pharmaceutical subiu 1% na semana passada, superando o S&P 500, que praticamente ficou estável. Para os investidores, o que pesa mais é o cronograma de implementação das tarifas, e não tanto o tamanho delas. O fato de a Casa Branca sinalizar um prazo de um ano a um ano e meio para que as cadeias de suprimentos sejam reestruturadas traz otimismo. O mercado aposta em aumento de estoques, mais oferta e melhor desempenho das empresas.
As tarifas, que variam de 30% a 50% e miram Canadá, México, Brasil e União Europeia, também não estão provocando grandes temores. Ainda há bastante tempo até que passem a valer, e há boas chances de acordos comerciais serem fechados antes de 1º de agosto. Para muitos, a escalada do conflito comercial parece apenas mais um capítulo adiado — e ninguém descarta que Trump possa mudar de ideia e prorrogar os prazos novamente nas próximas semanas.
O S&P 500 também vem sendo sustentado pela surpreendente resiliência da economia americana diante dos juros altos e das tensões comerciais. Segundo as estimativas de consenso do The Wall Street Journal, a economia dos EUA deve crescer 1% em 2025, acima da projeção de 0,8% feita em abril. Além disso, a probabilidade de uma recessão nos próximos 12 meses caiu de 45% para 33%.
Dinâmica da probabilidade de recessão nos EUA
O cenário assustador que muitos previam acabou não sendo tão grave quanto parecia. A previsão feita em abril foi feita em meio a uma tempestade no mercado provocada pelas tarifas, mas agora a situação está muito mais tranquila. Por isso, as estimativas para o PIB estão sendo revisadas para cima, enquanto as projeções de inflação estão sendo ajustadas para baixo. Especialistas do Wall Street Journal agora esperam que a inflação termine o ano em 3%, contra os 3,6% previstos anteriormente. Nesse contexto, a divulgação dos dados do Índice de Preços ao Consumidor (CPI) de junho ganha ainda mais importância para o desempenho do S&P 500.
A calmaria no mercado pode ser quebrada a qualquer momento caso a inflação acelere de forma inesperada. Nesse cenário, a expectativa de um corte na taxa dos Fed Funds seria descartada, e os riscos de recessão na economia dos EUA voltariam a ganhar força. Isso poderia levar o índice amplo de ações a uma queda significativa.
Do ponto de vista técnico, o gráfico diário do S&P 500 indica uma consolidação de curto prazo. Será que estamos diante de uma acumulação de posições compradas ou de uma distribuição de posições vendidas? A resposta deve surgir em breve. Por enquanto, enquanto o índice se mantiver acima do seu valor justo, em torno de 6.225 pontos, o sentimento permanece positivo. As posições compradas iniciadas a partir do nível de 6.051 devem ser mantidas.