Bancos da UE podem enfrentar falta de liquidez em dólares
Pode parecer improvável, mas os bancos da zona do euro estão, de fato, enfrentando o risco de escassez de dólares. Em meio às crescentes incertezas ligadas à política comercial do presidente dos EUA, Donald Trump, o Banco Central Europeu (BCE) emitiu um alerta: as instituições financeiras devem avaliar urgentemente sua exposição à possível falta de liquidez em dólares. Segundo a agência Reuters, o BCE já trabalha com cenários nos quais a Reserva Federal poderia negar acesso à moeda americana aos seus parceiros europeus — uma hipótese que poderia se concretizar em meio a uma crise global.
Hoje, aproximadamente 20% das necessidades de financiamento dos bancos da zona do euro são denominadas em dólares. O financiamento normalmente ocorre via mercados de curto prazo — mas, em momentos de turbulência, essas linhas podem secar de forma abrupta. Em crises anteriores, os bancos centrais europeus conseguiram acesso ao dólar por meio das chamadas “linhas de swap” com o Fed. No entanto, a continuidade desse mecanismo está sob escrutínio.
Embora ainda não haja motivo imediato para pânico — o Fed não deu nenhum sinal de que pretende romper seus compromissos —, o clima nos mercados continua tenso. A postura errática de Trump, que tem questionado o valor de alianças históricas e acordos comerciais, tem alimentado especulações sobre uma eventual mudança na política do Fed. Além disso, a crescente pressão da Casa Branca sobre o presidente do Fed, Jerome Powell, cujo mandato se encerra em um ano, levanta temores de interferência política nas decisões da autoridade monetária americana.
Diante desse cenário, os reguladores europeus intensificaram as exigências. Bancos estão sendo instruídos a revisar detalhadamente a relação entre seus ativos e passivos em dólares, identificando possíveis desequilíbrios e tomando medidas para reduzi-los. Algumas instituições foram até orientadas a reestruturar suas operações para diminuir a dependência do financiamento em dólar.
Apesar das garantias anteriores de Powell, indicando que o Fed estava disposto a manter suas linhas de swap ativas, o receio de um recuo não é mais considerado improvável. Agências de risco já estimam essa possibilidade em 5% — um número significativamente mais alto do que o “zero por cento” assumido até pouco tempo atrás.
Nesse contexto, algumas instituições começaram a explorar alternativas operacionais sem o uso do dólar. Um executivo de um banco regulado pelo BCE revelou que sua instituição testou recentemente um modelo sem acesso às linhas de swap do Fed. O resultado: seria possível continuar operando por um período prolongado, embora a capacidade de realizar novas transações em dólar ficasse comprometida.
Os bancos europeus que não possuem filiais nos Estados Unidos, especialmente os envolvidos em comércio e finanças internacionais, são os mais vulneráveis. Sua forte dependência do financiamento em dólares continua sendo um ponto crítico — e o futuro dessa dependência está cada vez mais em debate.