empty
 
 
A deflação leva Pequim a traçar um novo caminho econômico

A deflação leva Pequim a traçar um novo caminho econômico

A economia da China está mudando de rumo lentamente, mas de maneira perceptível. Pelo nono trimestre seguido, o deflator do PIB permanece negativo, a inflação insiste em não alcançar a meta e a indústria continua produzindo mais do que o mercado absorve. Como consequência, o crescimento patina e o governo se vê obrigado a repensar sua estratégia — estimular com velhas fórmulas tornou-se tão inútil quanto despejar água em uma chaleira já transbordando.

O símbolo dessa guinada é a campanha batizada de “anti-involução”, que, em termos simples, significa enfrentar a deflação crônica e a expansão interminável de capacidade em setores já saturados. Analistas enxergam ecos das reformas de 2015 a 2018, mas o quadro atual é distinto: os protagonistas do crescimento agora são empresas privadas de energia solar, veículos elétricos e baterias, e não mais as estatais tradicionais.

Nesse cenário, ordens de cima para baixo não bastam. O novo curso privilegia incentivo em vez de coerção, com estímulos graduais ao mercado. Nas indústrias de carvão, aço e cimento, os cortes lembram medidas antigas; já conter a superoferta nos setores emergentes é tarefa bem mais complexa. Até aqui, os funcionários limitam-se a prometer controle de preços e produção, enquanto ações concretas avançam de forma contida

O pano de fundo externo também pesa: tarifas dos EUA e fragmentação geopolítica elevam a pressão sobre os fabricantes chineses, tornando a reestruturação inevitável. O Morgan Stanley observa que as cadeias de suprimentos estão migrando para segmentos de maior valor agregado, em outras palavras, da produção barata para bens mais sofisticados e menos vulneráveis a choques externos.

Mesmo assim, o vício em perseguir metas de PIB por meio de investimento permanece. No curto prazo, não há sinal de revolução: Pequim ensaia apenas ajustes cosméticos enquanto prepara terreno para mudanças mais profundas, como redistribuição de incentivos a governos locais, transição do IVA para tributação direta e reforço do suporte social.

As primeiras medidas-piloto já surgiram: subsídios modestos ao consumo, bônus de natalidade e vouchers para cuidados de idosos. A escala ainda é pequena diante do desafio, mas o recado está dado. Economistas preveem que o próximo plano quinquenal priorizará reformas estruturais, em vez de depender apenas da política industrial.

A lição central é clara: vencer a deflação exige mudanças sistêmicas, do redesenho de incentivos fiscais ao fortalecimento da demanda das famílias. O caminho será longo. Se a economia da China é um dragão, hoje parece mais em pausa expectante do que cuspindo fogo — sinal de que a batalha contra a deflação ainda terá vários capítulos épicos pela frente.

Back

See aslo

Não pode falar agora?
Faça sua pergunta no chat.