Dólar é impulsionado pela incerteza e pelas turbulências cambiais globais
Outubro se firmou como o segundo melhor mês do ano para o dólar americano. O Bloomberg Dollar Spot Index (BBDXY), que acompanha o desempenho das principais moedas globais em relação ao dólar norte-americano, subiu 1,7%, registrando três dias consecutivos de alta.
O avanço é atribuído à incerteza causada pela escassez de dados econômicos nos EUA e às declarações de Jerome Powell, que sugeriram que um novo corte de juros está “longe de ser” uma conclusão antecipada. Na ausência de dados concretos, os investidores tendem a ler nas entrelinhas. O presidente do Federal Reserve sinalizou que o banco central não está disposto a continuar afrouxando a política monetária sem uma análise cuidadosa. Isso bastou para dar um impulso modesto ao dólar — não por otimismo, mas diante da fraqueza das demais moedas.
O euro, a libra esterlina e o iene tiveram desempenho fraco em outubro. A Europa está imersa em debates fiscais, o Reino Unido enfrenta turbulências eleitorais, e o Japão continua intervindo para defender o iene. Nesse cenário, o dólar se destaca como um pilar de estabilidade, ainda que o contexto global permaneça delicado.
A estrategista Jayati Bharadwaj, da TD Securities, afirmou que a alta do dólar deve continuar por mais algum tempo, uma vez que não há grandes divulgações de dados econômicos nos Estados Unidos e o foco dos mercados segue voltado para o exterior. Ela acrescentou que há diversas preocupações fiscais e eleitorais — começando pela França, seguidas por Japão e Reino Unido.
Ironicamente, o desempenho do dólar em 2025 tem sido decepcionante. No primeiro semestre, a moeda norte-americana registrou sua pior performance desde 1973, com as políticas tarifárias de Washington desencadeando um choque cambial que movimentou cerca de US$ 9,6 trilhões em volumes diários. A alta observada em outubro apenas reduziu ligeiramente a queda acumulada no ano, que agora está um pouco abaixo de 7%. O prolongado fechamento do governo também contribuiu para a volatilidade dos mercados — já são 31 dias sem novos dados econômicos.
Com isso, investidores seguem especulando sobre o rumo da economia, o que os leva a buscar refúgio no dólar. Segundo Paresh Upadhyaya, da Pioneer Investments, a falta de dados dificulta a leitura do cenário econômico, mas aumenta a demanda por ativos considerados seguros, como a moeda americana.
De acordo com as estimativas de Upadhyaya, a economia dos EUA provavelmente está se aproximando de um ponto mínimo local no quarto trimestre, com risco de nova aceleração em 2026. Assim, parece que o dólar está apenas fazendo uma pausa entre dois ciclos — um de queda e outro de crescimento.