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O mercado finalmente abriu os olhos. Donald Trump não é o tipo de presidente que reduziria tarifas em resposta a cortes recíprocos de outros países. O ocupante da Casa Branca pretende ditar os termos das negociações: ou você atende às suas exigências, ou está fora do mercado americano. O S&P 500 parece ter percebido que o presidente dos EUA pode mudar sua abordagem a qualquer momento — e que essas negociações ocorrem sob a ameaça do uso da força econômica. Quais são as chances de sucesso em um ambiente assim? A queda do índice amplo de ações por dois pregões consecutivos reflete essa dúvida crescente.
O Goldman Sachs avalia que as atuais avaliações das ações norte-americanas deixam pouco espaço para uma recuperação prolongada do S&P 500. Já o JP Morgan argumenta que ativos emitidos nos EUA não oferecem segurança em meio a choques de mercado. O HSBC recomenda cautela, citando fundamentos econômicos extremamente desfavoráveis. Apesar da mais longa sequência de altas desde 2024, o índice ainda tem desempenho inferior ao de seus pares europeus — embora a crise política na Alemanha possa vir a alterar esse equilíbrio.
Friedrich Merz virou estrela nos mercados financeiros ao propor um ajuste na regra do freio da dívida da Alemanha. Mas, como diz o ditado, há uma linha tênue entre a grandeza e o ridículo. Ele não conseguiu obter a aprovação do Bundestag para assumir a chancelaria, apesar de, em teoria, contar com apoio suficiente da coalizão. Et tu, Brute? Alguém dentro da própria União Democrata-Cristã o traiu. Até agora, isso não abalou significativamente o DAX 40, mas se novas eleições parlamentares forem convocadas, a situação pode rapidamente sair do controle.
As saídas de capital dos EUA para a Europa — impulsionadas pela perda do "excepcionalismo americano" — têm sido uma das razões por trás da queda do S&P 500 em direção às mínimas de abril. Se esse movimento se reverter e o capital retornar aos EUA, o índice pode surpreender positivamente seus apoiadores.
Ainda assim, a desaceleração da economia global e a recessão iminente nos EUA não formam um cenário ideal para a compra de ações. Trump tenta reformular o sistema de comércio internacional, mas tal transformação exige financiamento. Segundo o FMI, os bancos oferecem cerca de US$ 10 trilhões em crédito comercial. Interrupções nas cadeias de suprimento podem reduzir esses volumes de empréstimo e apertar as condições financeiras. Os EUA e outros países conseguirão resistir a esse choque? Tenho minhas dúvidas.
A determinação do presidente em ditar os termos — negociando com uma arma proverbial apontada para a cabeça da outra parte — assusta mais o S&P 500 do que a possível crise política na Alemanha ou as próximas negociações comerciais entre os EUA e a China, previstas para começar na Suíça. E não podemos esquecer da Reserva Federal, que, apesar da pressão de Trump, planeja manter a taxa de fundos federais inalterada pelo menos até julho. Isso é uma má notícia para o mercado de ações.
O S&P 500 está recuando em direção às suas médias móveis no gráfico diário. Um salto próximo ao nível de pivô em 5510 pode levar os investidores a reavaliar as posições vendidas abertas a partir de 5695. Até lá, manter essas posições continua sendo o curso mais aconselhável.