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Será que o mercado está ouvindo apenas o que quer? Ou estaria apenas jogando o velho jogo de "comprar na baixa"?
Segundo a Nomura, quem comprou o S&P 500 cinco dias após Donald Trump intensificar os conflitos comerciais teria acumulado um retorno de 12% desde o início de fevereiro. No mesmo período, simplesmente manter uma posição no índice não teria trazido ganhos relevantes.
Será que os investidores decidiram repetir esse padrão e voltaram às compras após o anúncio da Casa Branca de que as tarifas sobre aço e alumínio subirão de 25% para 50%? Ou será que a alta recente foi impulsionada pelos fortes dados do mercado de trabalho?
Reação do S&P 500 à escalada do conflito comercial
O aumento inesperado nas vagas de emprego e nas contratações em abril sinalizou a força contínua da economia dos EUA — uma boa notícia para o S&P 500. Também teve efeito positivo a declaração do secretário de Comércio, Howard Lutnick, que demonstrou otimismo quanto à conclusão iminente de um acordo comercial entre os EUA e a Índia.
Enquanto isso, Washington enviou comunicados a dezenas de outros países sobre o iminente aumento das tarifas universais, que devem passar dos atuais 10% para níveis muito mais elevados. Os EUA estão exigindo propostas mais vantajosas de seus parceiros comerciais — mas essas cartas geram preocupações.
Após a decisão da Corte Internacional de Comércio, que considerou ilegais as tarifas impostas pela Casa Branca, muitos países adotaram uma postura cautelosa, preferindo aguardar. No entanto, a paciência de Donald Trump pode se esgotar, e uma eventual escalada nos conflitos comerciais tem potencial para pressionar o S&P 500 para baixo.
Vagas de emprego e tendências de contratação nos EUA
Ao mesmo tempo, os mercados estão ignorando o avanço de um novo e importante projeto de lei de corte de impostos, que está sendo transferido da Câmara dos Deputados para o Senado. A proposta pode elevar o déficit orçamentário dos EUA dos atuais US$ 5 trilhões para US$ 8 trilhões na próxima década. Atualmente, o Tesouro já desembolsa cerca de US$ 1 trilhão em juros da dívida — valor que pode aumentar em mais US$ 1,8 trilhão caso os rendimentos dos títulos se mantenham nos níveis atuais.
A Allianz alerta que a introdução de um imposto sobre investimentos estrangeiros em títulos norte-americanos poderia elevar os rendimentos do Tesouro em 1,5 ponto percentual e provocar uma queda de até 10% nos principais índices acionários dos EUA. Essa parte do projeto de lei "grande e bonito" de Donald Trump pode se transformar em um evento significativo — e preocupante — para os mercados financeiros.
O jogo de "comprar na baixa" pode ser empolgante, mas a ganância e a complacência do mercado são sinais de alerta. As guerras comerciais estão prestes a reacender, enquanto os problemas fiscais dos EUA se agravam dia após dia. Apesar das garantias do Secretário do Tesouro, Scott Bessent, de que um calote jamais acontecerá, promessas são fáceis — ninguém sabe, de fato, o que o futuro reserva.
Do ponto de vista técnico, o gráfico diário do S&P 500 mostra um rompimento bem-sucedido da resistência próxima ao ponto 3 do padrão 1-2-3, o que levou à abertura de posições de compra a partir do nível 5945. No entanto, essas posições parecem frágeis, e a cautela continua sendo essencial. Uma rejeição na região de 6060 ou uma queda abaixo de 5900 pode ser um sinal para reverter a estratégia e considerar posições de venda.