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A história parece se repetir. Às vésperas do Dia da Independência dos Estados Unidos, muitos participantes do mercado afirmavam que as ameaças de Donald Trump eram mais barulhentas do que efetivas — sugerindo que, embora o então presidente dos EUA fizesse declarações contundentes, raramente tomava medidas concretas. A realidade mostrou o contrário: naquela ocasião, o índice S&P 500 sofreu uma queda expressiva após a imposição de tarifas em larga escala. Agora, o índice corre o risco de cair na mesma armadilha, à medida que os investidores parecem subestimar os riscos geopolíticos, tratando-os como mera "falação" sem consequências práticas.
Bastaram rumores de que o Irã estaria disposto a retomar as negociações sobre seu programa nuclear para que investidores de varejo aproveitassem a queda do S&P 500 para comprar. Segundo o JPMorgan, os investidores de varejo adquiriram US$ 23 bilhões em ações americanas apenas no mês de maio. No início de junho, alguns players começaram a realizar lucros, o que resultou em vendas líquidas de US$ 400 milhões. Ainda assim, qualquer nova tentativa do índice de retomar a tendência de alta provavelmente atrairá mais compradores.
O arrefecimento do entusiasmo também pode estar ligado à típica calmaria dos mercados durante o verão. Os derivativos indicam que o S&P 500 deve permanecer dentro de uma faixa diária inferior a 1% na maior parte de julho. Entre os principais catalisadores capazes de gerar movimentos mais expressivos estão os próximos relatórios sobre o mercado de trabalho dos EUA e a reunião de política monetária do Federal Reserve.
Flutuações projetadas no S&P 500
Na prática, o interesse do Irã nas negociações não garante o fim do conflito armado. Teerã busca, sobretudo, evitar o envolvimento direto dos EUA ao lado de Israel. O país sabe que Jerusalém não está preparada para sustentar uma campanha militar prolongada e, portanto, tenta ganhar tempo. Segundo a RBC Capital Markets, o S&P 500 pode cair até 20% caso o conflito no Oriente Médio se estenda para outros países e se prolongue. Esse cenário seria claramente negativo para as ações americanas, prejudicando o sentimento do consumidor, a atividade econômica dos EUA e, potencialmente, forçando uma mudança na postura do Federal Reserve para mais hawkish.
De fato, o Irã continua sendo um dos maiores produtores de petróleo do mundo, e os ataques à infraestrutura energética tendem a pressionar os preços do Brent e do WTI. Além disso, Teerã possui capacidade de bloquear o Estreito de Ormuz — uma rota vital para as exportações de petróleo do Oriente Médio para a Europa. Esse cenário poderia provocar uma disparada nos preços da gasolina nos EUA, dificultando a retomada do ciclo de flexibilização monetária pelo Fed antes do final do ano. Taxas de juros mais altas, por sua vez, exerceriam pressão adicional sobre as ações americanas.
Os riscos também estão aumentando na frente comercial. Os EUA não conseguiram fechar acordos com o Canadá, o Japão e vários outros parceiros. Com o período de carência de 90 dias se encerrando no início de julho, cresce a probabilidade de novas guerras comerciais.
Perspectiva técnica para o S&P 500
Tecnicamente, os touros do S&P 500 estão tentando reconquistar o nível do pivô-chave em 6.060 no gráfico diário. Enquanto o índice permanecer abaixo desse patamar — ou caso as tentativas de rompimento para cima voltem a fracassar —, a estratégia de vender nas altas segue válida.