A inteligência artificial e a energia assumem um papel central na nova corrida global por influência
A inteligência artificial e a energia estão se consolidando como as duas principais frentes de uma nova corrida geopolítica, uma disputa em que o poder tecnológico já não se mede pelo número de mísseis, mas pelo acesso a chips avançados e a usinas capazes de sustentar operações colossais. Um relatório da Wells Fargo Securities descreve a IA como “o epicentro da disputa de poder entre EUA e China”, alertando que sua influência pode redesenhar o equilíbrio global.
A competição atual se assemelha a uma corrida armamentista de nova geração: no lugar de satélites, GPUs; no lugar de bases de lançamento, gigantescos data centers. Em vez de reatores de urânio, os EUA enfrentam uma iminente escassez de eletricidade, enquanto a China lida com um déficit crescente de chips de ponta. A resposta norte-americana passa por uma política industrial abrangente — como a Lei dos CHIPS, que destinou US$ 8,9 bilhões para a Intel e US$ 400 milhões para a MP Materials, visando reforçar a produção doméstica e reduzir a dependência externa. Segundo o Wells Fargo, Washington pode adotar novas medidas nesse modelo para proteger a infraestrutura crítica de IA, especialmente frente aos riscos associados à China e Taiwan.
Ao mesmo tempo, a energia assumiu um peso estratégico quase equivalente ao dos semicondutores. A Agência Internacional de Energia projeta que a demanda global de eletricidade por data centers dobrará até 2030, e pode até triplicar em um cenário mais otimista. Nos EUA, a expansão da infraestrutura de IA depende cada vez mais do gás natural e da energia nuclear, que deverão suprir a maior parte das necessidades do setor até meados da próxima década.
Essa combinação de pressão tecnológica e limites energéticos já está acelerando movimentos de mercado. Empresas têm corrido para garantir capacidade futura, firmando contratos de longo prazo e até negociando com mineradores de Bitcoin para assegurar acesso à eletricidade já controlada por eles.
A diplomacia também está mudando de direção. O recente acordo entre EUA e Japão se concentra justamente em energia e modernização das redes elétricas, com grande parte dos investimentos japoneses direcionada à infraestrutura energética norte-americana necessária para sustentar o avanço da IA. Documentos conjuntos mencionam empresas como GE Vernova, Kinder Morgan, Carrier Global e Cameco.
O Wells Fargo traça paralelos históricos, lembrando a corrida espacial da Guerra Fria, período em que os EUA destinavam 0,8% do PIB para ciência e tecnologia, quase seis vezes o percentual atual. Em tempos de conflito, o gasto em defesa aumentava ainda mais, evidenciando o tamanho dos recursos normalmente exigidos por disputas geopolíticas prolongadas.
Embora as vulnerabilidades dos EUA incluam terras raras, produtos farmacêuticos e construção naval, são a IA e a energia que hoje determinam quem exercerá influência tecnológica global. A China busca chips avançados; os EUA, seu próprio recurso estratégico: eletricidade suficiente para treinar os modelos da próxima geração.
A nova corrida entre superpotências se resume, cada vez mais, a duas perguntas: quem tem os chips — e quem tem as tomadas?