As expectativas de uma transformação econômica impulsionada pela IA ainda não foram atendidas
O boom da inteligência artificial já deixou sua marca no mercado de ações norte-americano. No entanto, segundo analistas da Capital Economics, o impacto econômico ainda está longe de representar o salto transformador que muitos entusiastas imaginaram. Os ganhos de produtividade permanecem concentrados em um nicho relativamente restrito do setor de tecnologia, o que torna a tão prometida “década dos milagres” bem mais distante do que os otimistas previam.
Analistas acreditam que, os efeitos da IA já aparecem não apenas nos preços das ações, mas também em alguns indicadores macroeconômicos. O setor de TIC — que inclui hardware, software e data centers — respondeu por quase 0,9 ponto percentual do crescimento do PIB americano no primeiro semestre de 2025, quase o dobro da média da última década. Esse avanço está diretamente relacionado à intensificação dos investimentos em IA: os gastos com equipamentos e data centers saltaram quase 40% em relação ao ano anterior, enquanto o investimento em software contribuiu com cerca de 0,5 ponto percentual para o crescimento anual.
Fora do núcleo tecnológico, o cenário é bem mais moderado, mas ainda não há sinais de um avanço expressivo de produtividade nos grandes setores da economia. Muitas empresas relatam maior adoção de ferramentas de IA, porém o uso efetivo da tecnologia permanece abaixo de 15% nas indústrias fora do setor de TIC.
Além disso, o setor de tecnologia não está criando mais empregos — pelo contrário: as demissões superam as contratações. Isso revela um aumento interno de produtividade, mas não um efeito disseminado sobre o mercado de trabalho como um todo. O fato de a produção crescer ao mesmo tempo em que o emprego cai dentro do setor de TIC mostra que o boom atual é localizado e impulsionado diretamente pela IA, num momento em que o crescimento geral do emprego nos EUA desacelerou para menos de 50 mil vagas por mês.
A queda dos preços de bens e serviços tecnológicos também teve impacto relevante, reduzindo em cerca de 0,5 ponto percentual o deflator do PIB. Ainda assim, fora da tecnologia, as pressões inflacionárias praticamente não mudaram, sugerindo que a IA ainda não se espalhou de forma ampla pela economia americana.
A Capital Economics alerta que parte dos recentes ganhos de produtividade pode ser apenas uma resposta cíclica às tensões pós-pandemia no mercado de trabalho, e não necessariamente resultado de transformações estruturais provocadas pela IA. A verdadeira prova virá quando essas tecnologias começarem a penetrar setores de serviços amplos e pouco digitalizados, que representam cerca de 40% do PIB dos EUA.
Apesar do forte aumento dos investimentos e do entusiasmo em Wall Street, os analistas avaliam que os Estados Unidos ainda estão nas fases iniciais do boom da inteligência artificial. Dois trimestres de crescimento acelerado impressionam, mas estão longe de confirmar uma “década dos milagres”. Por enquanto, a contribuição da IA para o crescimento econômico é precoce, concentrada e limitada principalmente ao setor de tecnologia — com seus impactos mais profundos ainda “em espera”.