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O mercado parece confiante de que as tarifas não serão implementadas ou que as empresas conseguirão repassá-las aos consumidores. A sequência de oito altas consecutivas do S&P 500 — a mais longa desde agosto — reforça essa percepção. O mesmo vale para o recuo mais acentuado na relação preço/lucro em comparação com a relação preço/vendas. As empresas divulgaram resultados financeiros sólidos e demonstram intenção de manter esse desempenho, mesmo diante das tarifas de importação. No entanto, seria esse otimismo do mercado um tanto excessivo?
Os sólidos lucros corporativos de gigantes como Microsoft e Meta Platforms impulsionaram a valorização do S&P 500. Outro fator positivo foi a sinalização, por parte da China, de disposição para retomar negociações com os Estados Unidos. No entanto, Pequim deixou claro que o diálogo só será possível sob uma condição: a suspensão das tarifas draconianas de 145% impostas por Washington. Os EUA, por sua vez, não demonstram intenção de ceder — afinal, o acesso à "grande loja bonita", como Donald Trump costuma chamar o mercado americano, tem seu preço.
Apesar dos alertas nos dados macroeconômicos, os investidores em ações parecem ter esquecido o risco de uma recessão. Os números mais recentes apontam para uma desaceleração iminente da economia dos EUA. Entre os sinais de enfraquecimento estão o recuo nas vagas de emprego, os dados desapontadores do relatório ADP de emprego privado, o aumento nos pedidos de auxílio-desemprego e a queda da atividade comercial. A retração no setor industrial é particularmente preocupante: em ciclos recessivos anteriores, o PMI caiu para 40 ou menos.
Os otimistas do S&P 500 têm mais um motivo de preocupação: a sazonalidade. A antiga máxima do mercado — "venda em maio e vá embora" — volta a ganhar relevância. Segundo o Bespoke Investment Group, desde 1993, o S&P 500 acumulou um retorno de 171% entre maio e outubro, comparado a impressionantes 731% entre novembro e abril.
O mercado de ações está entrando em águas turbulentas. Não há sinais concretos de desescalada no conflito comercial entre EUA e China, o arrefecimento da economia americana torna-se cada vez mais evidente, e as tensões entre a Casa Branca e o Federal Reserve podem explodir a qualquer momento. Após Donald Trump, até o secretário do Tesouro, Scott Bessent, passou a aconselhar Jerome Powell, chamando a atenção do Fed para o mercado de títulos — que estaria sinalizando a necessidade de pelo menos três cortes nas taxas de juros em 2025.
O S&P 500 tem ignorado os dados macroeconômicos há bastante tempo, preferindo dar ouvidos às declarações da Casa Branca — mas isso não pode durar para sempre. Dados fracos do relatório de folha de pagamento não agrícola de abril podem desencadear uma onda de vendas no mercado acionário dos EUA.
No gráfico diário do índice amplo, a resistência em 5.625 mostrou-se sólida. Investidores que mantêm posições compradas a partir de 5.400 podem considerar realizar lucros ou proteger suas posições. Já o aumento de posições vendidas faz sentido caso o S&P 500 caia abaixo dos níveis de 5.515 e 5.435.